(ou "Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que dizem"!)
Algumas das coisas que mais tenho
ouvido desde que se iniciaram os protestos contra a permanência do pastor Marco
Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados (CDHM):
(a) "Por que vocês não protestam contra o
Renan Calheiros também? Bando de hipócritas!"
(b) "E manifestações por educação e saúde,
não vão fazer? "
(c)"Bando de vagabundos! Só
querem saber de baderna! Protesto às duas horas da tarde? Vocês não trabalham,
não?"
(d) "Não vão adiantar nada
esses protestos. Tem que mudar a cultura, tem que acabar com esse sistema
político!"
(e) "Só estão protestando
porque ele é pastor. Vocês queriam que o gayzista Jean Wyllys estivesse lá,
é?"
(Essas citações são reais. Corrigi
os erros de concordância verbal e nominal, de sintaxe e de grafia, mas os
termos utilizados vão daí para baixo na escala do respeito e da racionalidade.
Os xingamentos e palavrões estão sempre presentíssimos, claro).
Eu tinha por mim que tais
questionamentos seriam poucos; viriam de pessoas inocentes, ingênuas, que não
tiveram ocasião de parar para pensar no que estavam escrevendo... Parece, no
entanto, que me iludi. Na verdade, há gente de muita má-fé agindo por trás
dessas frases vazias. Por quê?
1. Um
protesto não inviabiliza (nem deslegitima) outro(s). Não é porque estamos nos
manifestando contra uma pessoa racista, homofóbica e machista na presidência da
CDHM que estamos impedindo protestos contra desmatadores na Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável ou contra corruptos no Senado Federal.
Muito pelo contrário: em diversos protestos que se realizaram desde o dia 08 de
março de 2013, manifestou-se, simultaneamente, contra Marco Feliciano, Blairo Maggi, Renan Calheiros...
O que tenho notado é que a totalidade dessa
gente que reclama dos protestos por uma CDHM mais justa e legítima jamais
participou de nenhum protesto na vida. Sequer se mobilizam nas redes sociais em
favor dessas causas que consideram "mais importantes". Sair às ruas,
então... De modo algum! Agora, eu que
pergunto, então: por que vocês não vêm protestar também? O que os impede?
É, parece que
não somos nós os hipócritas, hein...
2. Quanto
a chamar os manifestantes de baderneiros e vagabundos: mais um dos velhos
ataques conservadores para diminuir qualquer demanda por direitos e por
justiça... Nós trabalhamos, sim! E estudamos, dormimos, fazemos compras... A
diferença é que não nos conformamos com as iniquidades desse mundo e também
tiramos um tempo dos nossos dias para lutar por justiça, à nossa maneira. Se
tentar fazer a minha parte por uma sociedade que considero melhor é ser
vagabundo, que eu continue o sendo!
Não quero ser
aquele indivíduo que reclama do trânsito todos os dias, mas que quando vê um
protesto pelo desenvolvimento do transporte público, vocifera enraivecido de dentro
do seu carro: "bando de gente à toa, só sabe atrapalhar o trânsito!".
3. Precisamos
de mudanças no nosso sistema político? Sem dúvidas. Determinados aspectos da
nossa cultura podem contribuir para um sistema que favorece a ignorância e a corrupção?
Sim. Por conta disso, devo ficar parado, esperando que através das rotações e
translações da Terra tudo se resolva? NÃO!
Especialmente
quando se trata da luta por direitos de minorias historicamente oprimidas. Alguma
vez, por acaso, o opressor cedeu direitos a essas minorias sem que houvesse
muita luta por parte delas?
4. A
falácia do preconceito contra cristãos vai sendo repetida ad infinitum. Teve
gente, inclusive, falando de "cristofobia"... Mas que coisa, não é
mesmo? "Cristofobia" num país em que 90% da população se autodeclara
cristã (IBGE, censo de 2010). Eu mesmo sou cristão, e me entristeço com o fato
de que, ainda hoje, utilizem o nome de Jesus para oprimir, humilhar e
enganar...
Deve ficar claro
que Marco Feliciano NÃO REPRESENTA os cristãos. Ele sequer representa a maioria
dos evangélicos. E que os protestos contra ele NÃO se devem as fato de ele ser
pastor. Devem-se às suas declarações racistas, machistas, homofóbicas,
misóginas e antidemocráticas; devem-se às denúncias de corrupção que pesam
contra ele e à sua trajetória de negação dos direitos às minorias.
Abraços fraternos, e que o amor prevaleça!
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