segunda-feira, 1 de abril de 2013

Deixem-me sambar!


(ou "Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que dizem"!)

Algumas das coisas que mais tenho ouvido desde que se iniciaram os protestos contra a permanência do pastor Marco Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM):


(a)  "Por que vocês não protestam contra o Renan Calheiros também? Bando de hipócritas!"

(b)  "E manifestações por educação e saúde, não vão fazer? "

(c)"Bando de vagabundos! Só querem saber de baderna! Protesto às duas horas da tarde? Vocês não trabalham, não?"

(d) "Não vão adiantar nada esses protestos. Tem que mudar a cultura, tem que acabar com esse sistema político!"

(e) "Só estão protestando porque ele é pastor. Vocês queriam que o gayzista Jean Wyllys estivesse lá, é?"


(Essas citações são reais. Corrigi os erros de concordância verbal e nominal, de sintaxe e de grafia, mas os termos utilizados vão daí para baixo na escala do respeito e da racionalidade. Os xingamentos e palavrões estão sempre presentíssimos, claro).



Eu tinha por mim que tais questionamentos seriam poucos; viriam de pessoas inocentes, ingênuas, que não tiveram ocasião de parar para pensar no que estavam escrevendo... Parece, no entanto, que me iludi. Na verdade, há gente de muita má-fé agindo por trás dessas frases vazias. Por quê?

1. Um protesto não inviabiliza (nem deslegitima) outro(s). Não é porque estamos nos manifestando contra uma pessoa racista, homofóbica e machista na presidência da CDHM que estamos impedindo protestos contra desmatadores na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável ou contra corruptos no Senado Federal. Muito pelo contrário: em diversos protestos que se realizaram desde o dia 08 de março de 2013, manifestou-se, simultaneamente, contra Marco Feliciano, Blairo Maggi, Renan Calheiros...
 O que tenho notado é que a totalidade dessa gente que reclama dos protestos por uma CDHM mais justa e legítima jamais participou de nenhum protesto na vida. Sequer se mobilizam nas redes sociais em favor dessas causas que consideram "mais importantes". Sair às ruas, então... De modo algum!  Agora, eu que pergunto, então: por que vocês não vêm protestar também? O que os impede?
É, parece que não somos nós os hipócritas, hein...


2. Quanto a chamar os manifestantes de baderneiros e vagabundos: mais um dos velhos ataques conservadores para diminuir qualquer demanda por direitos e por justiça... Nós trabalhamos, sim! E estudamos, dormimos, fazemos compras... A diferença é que não nos conformamos com as iniquidades desse mundo e também tiramos um tempo dos nossos dias para lutar por justiça, à nossa maneira. Se tentar fazer a minha parte por uma sociedade que considero melhor é ser vagabundo, que eu continue o sendo!
Não quero ser aquele indivíduo que reclama do trânsito todos os dias, mas que quando vê um protesto pelo desenvolvimento do transporte público, vocifera enraivecido de dentro do seu carro: "bando de gente à toa, só sabe atrapalhar o trânsito!".

3. Precisamos de mudanças no nosso sistema político? Sem dúvidas. Determinados aspectos da nossa cultura podem contribuir para um sistema que favorece a ignorância e a corrupção? Sim. Por conta disso, devo ficar parado, esperando que através das rotações e translações da Terra tudo se resolva? NÃO!
Especialmente quando se trata da luta por direitos de minorias historicamente oprimidas. Alguma vez, por acaso, o opressor cedeu direitos a essas minorias sem que houvesse muita luta por parte delas?

4.  A falácia do preconceito contra cristãos vai sendo repetida ad infinitum. Teve gente, inclusive, falando de "cristofobia"... Mas que coisa, não é mesmo? "Cristofobia" num país em que 90% da população se autodeclara cristã (IBGE, censo de 2010). Eu mesmo sou cristão, e me entristeço com o fato de que, ainda hoje, utilizem o nome de Jesus para oprimir, humilhar e enganar...
Deve ficar claro que Marco Feliciano NÃO REPRESENTA os cristãos. Ele sequer representa a maioria dos evangélicos. E que os protestos contra ele NÃO se devem as fato de ele ser pastor. Devem-se às suas declarações racistas, machistas, homofóbicas, misóginas e antidemocráticas; devem-se às denúncias de corrupção que pesam contra ele e à sua trajetória de negação dos direitos às minorias. 

Abraços fraternos, e que o amor prevaleça!

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